domingo, 27 de setembro de 2009

Tudo se Escreve..

Eugênio Salles...

___
Felizes são aqueles, que tem o sonho maior que os próprios segredos.
Audazes, capazes de viver a utópica simplicidade...
Ferozes, a ponto de correr da temível rotina...
Corajosos, na indecisão da possibilidade não anunciada..
Dos dias que se passam pouco e tudo sobra: escrever.
O simples escrever sobre escrever é um tormento.
Tormento dolorido quanto a ausência da presença indispensável.
Escrever é observar...
Observar tudo, mesmo que isso não passe de uma cena, gravada e reproduzida no cenário do viver, dirigido pelos anônimos.
Ah! E o escrever pitoresco e desafinado do poema melódico...
Isso a poesia o faz tão bem, que a escrita não dá conta.
A poesia produz efeitos que não têm nada a ver com sua forma.
Já dizia o poeta: “o que os olhos não vêem o coração não sente.”
Nessa tese tudo se liga, afinal.
A escrita da vida, em forma de poesia para agradar o coração..
E assim, tudo se escreve...
A letra do poeta para amada que se foi, deixando-o só.
O drama da multidão que se escreve na pena da dor.
A falácia do discurso mediante a inexistência da ação.
Enfim, se escreve sob o peso da culpa e do sofrer.
Pois...
Quando tudo estiver bem não será mais necessário escrever.
Estaremos preocupados demais em viver.
E tudo será escrito, não, desenhado então...
A história desenhada nos olhos de um amanhecer...


________
________

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O Mágico, o Palhaço e a Flor..

Eugênio Salles..
.


O Mágico era velho, não tão velho para ser cansado, mas nem tão novo para andar empolgado.
Tinha um sorriso amarelo e um olhar profundo, não distante, nem muito decido.
Era um olhar profundo e confuso..
Olhar que lhe aproximava do palhaço..
Sim, o mágico era amigo do palhaço e os dois eram conhecidos do acaso..
O palhaço era magro, robusto e calmo no andar..
Poucas dores no sorriso, muitas decisões no olhar..
Era forte e sensível, mistura difícil de imaginar..
Palhaço estabanado, jeito simples e “falar” espanhol..
-“Señoras e señores”, assim dizia o palhaço..
Andavam labirintos pelos caminhos que passavam. Não eram caminhos perdidos, muito menos traçados.
Era mágica a melodia do palhaço e risonha a audácia do mágico..
De pé em pé caminhavam sem Dolores, assim a vida era um circo, o palhaço, o mágico e o espetáculo..
Não tinham segredos. Não tinham moedas. Não tinham muitos medos.
Eles tinham versos, histórias, melodias..
Gostavam de dizer que seus dias eram ventos, não sem sentido ou furação, mas ventos que mechem, remexem, desfazem e, por vezes, constroem...
Seu palco era a rua no silêncio, esperando a tradução.
O Palhaço dizia sorrindo, irônico e gritão:


- “Creo en la suerte, no dudo de la muerte, hago de mis dias las noches, para asi, poder vivir a soñar...”


O Mágico, pouco falava (mágicos observam e quando menos se espera, transformam), dizia apenas:


- “Confiança nos passos, audácia no amor, minha vida é uma arte, minha mágica não tem dor. Dias bem vividos, perfumes e valor, não falo, faço versos do vento e da dor, carrego o choro, a saudade, e transformo, quando preciso, sofrimento em flor."


Assim iam eles pelo mundo, o palhaço, o mágico e o céu...
Não eram sozinhos, nem sem valor. Deixavam saudade, deixavam histórias, o mágico, o palhaço e a flor..

___________________________

___________________________